Quem tinha seus 15, 16 anos nos anos 80 carregava uma obrigação: ler as tiras do Bob Cuspe, personagem criado por Angeli e publicado na “Folha” e na revista “Chiclete com Banana”.
Um punk que vivia em São Paulo, uma cidade exageradamente poluída, cercada por asfalto e prédios. Sem amarras, Bob Cuspe desprezava o sistema e todos que tentavam levar uma vida urbana confortável. Era o troco ao momento yuppie da época, um jovem que vivia nos esgotos, cheio de furos pelo corpo e que ouvia The Clash e Ramones.
Todas as histórias do personagem foram reunidas na antologia “Todo Bob Cuspe” (Quadrinhos na Cia), no mesmo formato que a Rê Bordosa ganhou em 2012.
Mas ao contrário da porralouca que vivia numa banheira, Bob Cuspe envelheceu mal. Alguns poucos quadros ainda escapam da ingenuidade – na época do original, o discurso transparecia mais o humor.
Rê Bordosa tem uma estrutura menos anacrônica, capaz de sobreviver à passagem do tempo. Sua leitura funciona muito bem hoje.
Já Bob Cuspe vale como memória afetiva, como arquivo de uma época.