Comecei este blog no dia 29 de julho de 2013, data da primeira postagem. Como escrevi à época, na descrição, era uma terceira iniciativa — a primeira praticamente não existiu e a segunda durou bons cinco anos. Esta terceira, encarnada no Capítulo Dois, durou 7 anos e alguns meses – e esses meses foram dedicados ao silêncio, pois a última postagem data de 28 de junho, no quarto mês do isolamento, ao qual permaneço cumpridor e fiel.
Sim, o blog encerra, com este texto, sua passagem. Não há motivos claros. Tenho poucos leitores, desde sempre, mas nunca foi meu objetivo chegar a multidões — até porque não sei como fazer para que isso aconteça. Então, nada mudou. O que percebo é que há um esgotamento do que posso e quero dizer.
Livros e leituras existem — como a do possivelmente melhor livro que li neste 2020, “O Avesso da Pele”, de Jefferson Tenório. Mas sobre eles não sei mais o que escrever. Talvez seja reflexo deste momento único, em que um vírus domina nossos passos, que estão à mercê, neste país, de um genocida, desumano, imbecil, que contamina descerebrados a disseminar discursos racistas, burros e fatais.
Não há mais o que falar. Há um cansaço que esgota, uma exaustão que se multiplica em meio a tanta burrice, a tanta falta de horizonte.Nestes 7 anos, gostei de muita coisa do que fiz. Conheci escritores e leitores, conversei com vários, descobri muito com eles – esses poucos leitores me eram mais que suficientes. Conversas que me levavam a livros diferentes, que me desafiavam a buscar novidades, a conversar com nomes inteligentes – e me orgulho de todas as entrevistas que fiz.
O blog chegou até a Folha de S.Paulo. Comprou a briga de Ricardo Lísias com a PF. Confrontou o machismo em premiações nacionais. Reforçou, em entrevistas, a importância de um livro como “Torto Arado” e a urgência da obra de Ana Paula Maia. Conseguiu de Alberto Manguel um verbete inédito para o seu “Dicionário dos Lugares Imaginários” — talvez o maior orgulho deste blog. Apoiou escritores iniciantes, conversou com consagrados. No Brasil e lá fora.
Enfim.
Este canal se esgotou na forma como ele existe até hoje. Não sei como continuar e, sinceramente, não quero pensar em continuar neste momento — pelo menos não deste jeito.
Agradeço a esta comunidade de leitores por sua dedicação a acompanhar este blog nestes 7 anos. O canal permanece aberto, o site permanece no ar. Neste fim de 2020, deste terrível ano, só nos resta olhar com carinho para trás para que nos supra de forças para o próximo ano. Vamos em frente.
Poxa, que pena! Tá foda mesmo falar de livro ou cultura em geral no Brasil. Eu entendo o desânimo. Mas, por experiência bem particular, são ambientes como o seu blog que me ajudam a aguentar esse momento tenebroso que estamos vivendo.
Boa sorte, Ricardo!
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Oi, Brenda, obrigado por encontrar no blog um espaço de respiro. Gostaria de sentir isso também, mas, neste momento, não consigo. Mas nada como um dia após o outro. Bom ano para você!
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Olá Ricardo,
Só posso agradecer as suas indicações e entrevistas muito boas, é uma pena, mas espero ter sido uma decisão consciente e quero aguardar o retorno em breve.
abraço
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Cheguei até ele agora. Uma pena. Talvez possa deixar em suspenso. Retomar depois, quando essa onda de tensão passar. A quarentena na qual estou desde o começo me fez zerar coisas, mas por incrível que pareça encontrei na escrita uma válvula de escape. Fique bem. Abraços fraternos.
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“Tenho poucos leitores, desde sempre, mas nunca foi meu objetivo chegar a multidões — até porque não sei como fazer para que isso aconteça.” Uma das maneiras de arrecadar leitores e seguidores, experiência minha, foi lendo e comentando em outros blogs. Interagindo. Não tenho também muitos seguidores, mas divulgo o que escrevo em outras redes.
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Sou quase um ser antissocial nas redes sociais. Deveria mesmo fazer isso que você sugere, mas nunca tive paciência suficiente. Não lamento, só constato
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Oi, Evelyn, um bem-vinda com sabor diferente, mas o blog permanece no ar. A cabeça continua, quem sabe o que pode vir. Um grande abraço e obrigado pela leitura
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Ricardo, sou leitor do blog desde pelo menos 2014 e gostaria de te agradecer por todo esse tempo. É uma pena que a manutenção dos posts tenha se tornado insustentável, tanto subjetiva quanto objetivamente. Lamentável a situação geral, coletiva, que de fato está atroz, desanimadora, estéril para projetos de qualidade como este. Mas o que importa é que você compartilhou conosco durante tanto tempo (ainda mais para um blog!) muito material excepcional, frequentemente superior aos cadernos especializados, e que me rendeu muitas dicas ótimas (autores que eu não conhecia, livros a que não dei muita atenção, ideias e opiniões sempre interessantes). Muito obrigado! E vida longa ao Capítulo Dois 🙂
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Oi, Henrique, muito obrigado pelas palavras. Você é daqueles leitores que sempre prestigiaram o blog, com leituras, comentários e compartilhamentos. Sigamos, pois é preciso.
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