A vida tal qual a conhecemos hoje deve muito a uma mulher negra que morreu em 1951, nos Estados Unidos. Rebecca Skloot conta essa história em “A Vida Imortal de Henrietta Lacks” (Companhia das Letras), reportagem que retrata a vida da mulher que morou na Virginia preconceituosa e racista da época — contexto que ainda se mantém.
Henrietta foi vítima de câncer e morreu no hospital Johns Hopkins. Sem seu consentimento e sem a família saber, um médico retirou uma amostra do seu colo do útero, também atingido pelo câncer. A amostra gerou a família de células HeLa, que serviu de base para inúmeras pesquisas científicas. Por exemplo, a vacina contra a poliomielite foi obtida com a linhagem HeLa, assim como medicamentos contra o câncer e aids.
Ainda hoje, as células HeLa são a principal usina da genética.
O livro conta como a família de Henrietta foi surpreendida pela notícia de que as células da matriarca estavam sendo usadas por centros de pesquisa sem render nada a ela. A autora reconstitui a época em que Henrietta viveu, com suas características e contextualizações (uma aula de história), e como a família dela vive hoje, com técnicas jornalísticas e um texto leve e saboroso. Rebecca Skloot foi extremamente feliz ao contextualizar os anos 50, para ilustrar como os negros eram obrigados a viver e como isso influenciou nas tomadas de decisões de todas as partes envolvidas no caso.
Ela intercala a história pessoal com a história da ciência, ao mostrar como centros de pesquisa utilizavam a linhagem HeLa, usando como amparo a questão jurídica que envolveu a disputa pelas células, um debate caro à ciência e que ainda gera polêmica.
A história é instigante por desvendar como o progresso da ciência deve muito a uma mulher que morreu em meados do século passado. Rebecca Skloot consegue transformar um assunto que poderia ser muito técnico num livro com ritmo de romance policial.