A Companhia das Letras, há alguns anos, tinha uma loja exclusiva no Conjunto Nacional (SP), em parceria com a Livraria Cultura — na época em que a livraria era um lugar agradável de ser frequentado. Dois andares apenas para livros da editora. Concentrados, seus títulos ficavam mais fáceis de ser encontrados, algo que permitia também a descoberta de novos autores. Além do mais, a loja, por algum motivo, estava sempre vazia. Era confortável, calma, apenas uma livraria.
Na época, a Companhia reinava basicamente reinava sozinha nos catálogos, com exceções aqui e ali – hoje, a Todavia vem fazendo frente, com um catálogo de respeito, mesmo que não brigue em volume.
Esse canto já não existe mais, assim como a Cultura aos poucos vai definhando. Uma pena. Aliás, a loja da Paulista é horrível, sempre foi impossível de frequentar, além de ter uma parte instalada numa ladeira.
Bem, em uma daquelas incursões, descobri Paula Fox e seu Desesperados. O livro é bem recomendado. Na capa, um trecho de crítica publicada na “The New Yorker”. A introdução é de Jonathan Franzen, o badalado escritor de “As Correções” e “Liberdade”.
A história se passa em um fim de semana. Em pouco mais de 170 páginas, Paula Fox leva o leitor a uma viagem interior, de impacto. Parte de um ponto prosaico. Sophie vai alimentar um gato de rua e é mordida pelo bicho. O ato desencadeia mudanças bruscas de humor e de sentimentos.
Raiva, medo, dúvidas, romance extraconjugal, Sophie tenta lidar com a ferida na mão, que abriu a porta para um turbilhão de imagens. Seus poucos personagens — três principais — fazem do romance algo conciso, em que o tempo também colabora. Essa concentração permite um mergulho vigoroso nas entranhas dos personagens, um mergulho que passa pela alma do leitor, invariavelmente.