Dicionário do Diabo
Quando foi lançado pela Carambaia, há quase dois anos, o livro do jornalista americano Ambrose Pierce saía por R$ 99,90. A editora publica edições especiais e limitadas, com acabamento de luxo. Opção que restringe o alcance. Mas sua coleção Acervo leva ao público versões mais simples a preços acessíveis (este “Dicionário” sai a R$ 27,90).
Esta é a primeira edição do “Dicionário do Diabo” na íntegra. Satírico, por vezes perverso, Ambrose Pierce escreveu um livro que mistura algo semelhante a aforismos e poemas. O conjunto é provocador, às vezes datado, na maior parte das vezes, atual.
O cinismo de Pierce ao tratar das realidades da época — o livro foi lançado oficialmente em 1911 — busca encaixar o homem no novo século, em que a tecnologia começa a engatinhar e as cidades crescem. Nesse contexto, o jornalista lança definições que provocam a reflexão antes do riso — em grande parte dos vocábulos, os dois chegam juntos.
- Primeiro de abril: A tolice de março com outro mês acrescentado à sua insensatez
- Intolerante: Pessoa obstinada e ardorosamente ligada a uma opinião de que você não compartilha
- Amor: Insanidade temporária curada pelo casamento ou pela remoção do paciente das influências sob as quais ele contraiu a doença
Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais
A capa e o título passam a impressão de estarmos diante de um livro de autoajuda voltado para negócios. Mas perde quem embarca nessa ideia.
Jaron Lanier é um cientista e pioneiro da realidade virtual. Seu texto não fica apenas na listagem de regras e orientações a serem seguidas. Sim, há os dez argumentos, mas suas justificativas são tão intricadas e bem elaboradas que o leitor se descobre em meio a um ensaio poderoso sobre tecnologia.
Ele não apenas aponta os problemas, mas exemplifica e detalha como os algoritmos funcionam nas principais redes sociais e empresas de tecnologia.
E não só. Lanier se aprofunda nos efeitos sociais e em como a sociedade se isola cada vez mais diante da fúria das redes e dos compartilhamentos. É o argumento 7, “As redes sociais deixam você infeliz”.
Ele avança sobre aspectos econômicos e políticos e privacidade. No final, ele não prega o desligamento total. O mais importante é ter conhecimento. Mas a sensação que fica é que deletar é a única opção. Da Intrínseca.
Democracia em Risco?
Com o subtítulo “22 Ensaios sobre o Brasil de Hoje”, o livro foi encomendado pela Companhia das Letras antes do segundo turno das eleições de 2018. Já se desenhava a vitória de Jair Bolsonaro, mas a campanha indicava um aquecimento de discursos radicais e totalitários.
Escrito no calor do momento, a coleção discute política, economia, tecnologia, comportamento, cultura, sempre amparada na condução do atual governo.
Mesmo sem distanciamento, mas com fatos suficientes para criar uma narrativa sólida e representativa, os ensaios abrem o caminho para uma discussão que precisa amadurecer e se ampliar.
Da seleção, destaco os ensaios escritos por Monica de Bolle, Angela Alonso, Carlos Melo e Boris Fausto.
Um comentário em “Notas de Leitura 66”