“A condição de repórter em Geneton é imbatível, é nele uma segunda natureza e, como profissional, a própria razão de ser. (…) Ele tem duas qualidades que o lendário Herbert Mathews apontava como essenciais num repórter: a humildade e a paciência. No trato com a notícia, que respeita reverente e trata com unção, Geneton é impecável.”
Joel Silveira assim escreve nas orelhas de “Dossiê Drummond”, livro que traz uma entrevista de Geneton Moraes Neto com o poeta Carlos Drummond de Andrade feita em 1987. Já escrevi sobre a obra neste post, livro que Paulo Francis classificou como “uma grande reportagem biográfica”.
Geneton morreu na segunda-feira (22/8), aos 60 anos. Jornalista com raro bom humor, em uma categoria pouca afeita a esse tipo de inteligência nestes dias tão polarizados e burros, ele dominava a arte da entrevista e fazia com que seus personagens se sentissem tão à vontade e confiantes que transformava uma ação jornalística num bate-papo casual em pouco tempo.
Sem deixar de lado a busca pela informação, as entrevistas caminhavam por uma rota que sempre deixava claro qual era seu objetivo, o mais caro ao jornalista: a notícia, o fato novo, um viés pouco conhecido do seu personagem. Como na série feita com os generais da ditadura. Ou o documentário do sertão brasileiro.
Como em Drummond, que se confessou piromaníaco, descrito nesse belíssimo dossiê. Livro que classifiquei como tão essencial quanto a obra do poeta – claro, guardadas as proporções devidas, pois coisas diferentes, ainda que uma possa ajudar a entender a outra.
Certamente, Geneton fará falta.