Gastronomia nem moda mais é. De tão hypada, é quase que obrigação falar, discutir, comer e escrever sobre o tema. É só perceber o quanto a palavra gourmet é usada indiscriminadamente, seja em nomes de lugares, receitas e pratos. Tudo é gourmet. Tudo precisa ter algum ingrediente de nome que ninguém ouviu falar. As misturas mais esdrúxulas ganham status de inovação. O comensal que mergulha nesse universo ganha passa livre para se transformar em alguém superior, pretensamente.
Não é o caso de defender apenas o sanduíche de presunto e queijo na chapa com raspas de ingredientes do dia anterior. Nem pensar que aquele prato feito num canto feio e sujo é melhor do que o produzido numa cozinha moderninha.
Mas que é salutar se deparar com uma coletânea de textos de Nina Horta, ah, isso é difícil negar. “O Frango Ensopado da Minha Mãe” (Companhia das Letras) traz um conjunto de textos que a cozinheira e dona de bufê escreveu para a “Folha de S.Paulo” – na versão impressa e depois na casa digital.
Nina Horta trata a gastronomia com a percepção de que nem tudo precisa ser glamourizado, elevado à enésima potência para ser saboreado. Tampouco finge que apenas o simples é o melhor. Há espaço para ambos.
O salutar, neste caso, é que a cronista faz da culinária uma personagem cotidiana, uma companheira de almoços e jantares, passeios e encontros furtivos. Seu texto elegante e simples transforma a crônica num mergulho envolvente nesse universo.
Ela descreve ingredientes redescobertos, restaurantes que a animam e decepcionam, pessoas que se revelam cozinheiras em situações extremas, o seu dia a dia no comando de um bufê e suas experiências gastronômicas pelo mundo.
Ela não está preocupada com o hype e nem com o que pode estar nos trending topics. Essa curva que seus textos nos levam a percorrer força uma redução de velocidade, a imaginar, pensar e cheirar as palavras.
E é tão bom ler algo que parece e é genuíno, sem marketing, pretensão ou exagero. Simples, gostoso, criativo e muito bem feito. Poucos que escrevem sobre gastronomia conseguem impor um estilo tão marcante e nada de penduricalhos.
Hoje, assim como restaurantes, cafés e lanchonetes acham que precisam descobrir palavras bregas e exageradas para dar consistência ao cardápio, cronistas e críticos também pensam ser esse o caminho para seus textos. Nina Horta mostra que não. E com categoria.