Minha relação com Moby Dick não aconteceu de forma linear. Quero dizer que não comecei a minha relação com a baleia branca por meio do romance de Herman Melville. A primeira vez foi com a adaptação cinematográfica dirigida por John Huston, aquela em que Ahab é interpretado por um ensandecido Gregory Peck. Não me convenceu, talvez porque era jovem demais – vi em uma madrugada na Globo, quando a emissora exibia clássicos durante a semana.
A história era conhecida. A baleia branca assombra um capitão, dominado pela fúria em caçá-la até o fim. Cheguei a ter um edição do romance de Melville, daquelas adaptadas, reduzidas para facilitar a leitura. Nunca li.
Moby Dick me pegou de vez, na verdade, em 2000, quando li “No Coração do Mar” (Companhia das Letras), um livro reportagem escrito por Nathaniel Philbrick que conta a história real do baleeiro Essex, embarcação que viajou pela costa norte-americana para caçar baleias em 1821 e quase não voltou.
Essa história teria inspirado Melville a escrever seu grande romance.
Esse livro me entusiasmou tanto que sempre o indicava a quem queria dicas de não ficção. E me veio à memória agora por conta da versão cinematográfica homônima dirigida por Ron Howard.
O livro de Philbrick é daquelas coisas que os americanos fazem muito bem. Reúne pesquisa minuciosa, reportagem e uma certa imaginação que não ultrapassa a verossimilhança. O historiador descreve o mercado de óleo de baleia no século 19, como o vilarejo Nantucket dependia dos baleeiros para sobreviver, a viagem do Essex, tudo com farta documentação e material iconográfico. Philbrick reproduz os relatos de sobreviventes, o que ajudou a propagar o mito do monstro branco.
Mais. Ele escreve para o leitor comum, não para o historiador. Estamos diante do modelo ideal para o jornalismo.
Não dá para ter uma memória tão vívida da experiência de leitura de 15 anos atrás, apenas que o livro me despertou a vontade de ler “Moby Dick”. Sem encontrar edições decentes, me transformei em Ahab até a Cosac Naify entregar a minha baleia branca em 2008, uma monumental edição do livro de Melville. Mas essa é outra história, que será contada em outro post.

Um comentário em ““No Coração do Mar” apresenta a Moby Dick que fez Melville transformar a história em mito”