“O Mundo de Aisha – A Revolução Silenciosa das Mulheres no Iêmen” (Nemo), Agnes Montanari e Ugo Bertotti
É a melhor HQ lançada até agora em 2015 no Brasil. Misto de reportagem com ficção, o livro retrata a viagem da fotojornalista Agnes Montanari pelo Iêmen e suas entrevistas com as mulheres locais. O artista italiano mescla seus desenhos com as fotografias de Montanari – recurso que lembra a série “O Fotógrafo”. Mas se nos livros sobre o Afeganistão as cores são predominantes, em “O Mundo de Aisha” a arte está toda em preto e branco, um jogo de sombras que reproduzem o mundo em que as mulheres iemenitas vivem. A HQ conta a história de sete mulheres, de vidas diferentes, cada qual com seu universo próprio. O fato que as une é a repressão masculina, que impõe padrões de comportamento e de conduta – elas foram escravizadas, estupradas, mortas. São relatos emocionantes e que fogem da pieguice – mérito para as opções de cores, que evitam o excesso de expressões. Então, temos desde a garota obrigada a casar aos 12 anos à mulher que conseguiu emergir na sociedade repressora e se tornou dona de uma rede de restaurantes. Se você quiser ler uma HQ neste ano, não tenha dúvida. Este é o título.
“Uma Metamorfose Iraniana” (Nemo), de Mana Neyestani
Este é o relato do labirinto em que o desenhista se meteu no final dos anos 90. Neyestani editava um suplemento infantil para um jornal e em uma de suas edições publicou uma ilustração que fez um trocadilho que incomodou os azeris, iranianos de origem turca. Isso provocou um levante e criou um problema para Teerã. A solução do governo foi intervir no jornal e prender o artista e o editor. Neyestani então relata nas páginas em p&b os percalços que enfrentou desde sua prisão às tentativas de fuga do Irã. A brincadeira com o título kafkiano vem de uma possível tradução do texto publicado no jornal, que transforma os azeris em insetos. Diante da história do desenhista, é possível também ampliar o espectro e remeter a outro livro de Kafka, “O Processo”, tais os absurdos que a burocracia e o regime iraniano impõem ao Neyestani. Imperdível.
“O Muro” (Nemo), de Céline Fraipont e Pierre Bailly
A HQ da roteirista e do desenhista belgas é uma das grandes histórias de amor contemporâneas. Apesar de se passar em 1988, a trama é tão atual quanto cruel. Rosie vive no interior da Bélgica e se vê abandonada pela mãe. Seu pai cuida apenas para que não lhe falta dinheiro e delega sua educação ao acaso – ela tem 13 anos. Rosie então se apoia no seu universo. Vive às margens, como num underground típico da época. Vai encontrar em um muro o ponto de reflexão e paz. Os desenhos, também todos em p&b, são econômicos, sem grandes detalhes. Busca nas impressões e no jogo de sombras traduzir o ambiente. Belíssima HQ, que retrata a transformação de uma garota enquanto aprende a viver.
Outro dia mesmo vi “O Muro” na livraria e fiquei curioso. A beleza da impressão dos quadrinhos me cativa, independente da modernidade dos e-books e etc. Boas indicações!
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Vale mesmo a leitura no papel.
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