“O Boxeador Polaco” (Rocco), de Eduardo Halfon
Livro recentemente lançado pela série Otra Língua, que publica no Brasil autores da América Latina inéditos ou pouco conhecidos no país. O escritor guatemalteco apresenta uma coleção de contos que viaja na onda que embaralha ficção e realidade. Os personagens das histórias se chamam Eduardo, Halfon ou Dudu, sempre em referência ao autor, fazendo com o leitor mergulhe na intimidade familiar, ao mesmo tempo em que conhece a realidade da Guatemala. Dois contos são pequenas pérolas. “Distante” conta a história de um professor de literatura que enfrenta diariamente o descaso dos alunos, até que se vê diante de um pequeno talento. Entre discussões sobre Ricardo Piglia, Joyce, Maupassant e Poe, o professor busca estimular o aluno, até que acaba por conhecer o real, a Guatemala que dita os rumos das cidades. A outra grande história é o conto que dá título ao livro. O avô de Eduardo, sobrevivente dos campos de Auschwitz, conta ao neto como sobreviveu ao holocausto, ajudado por um boxeador que sabia o que fazer para não ser morto pelos soldados alemães. Mais do que a relação entre avô e neto, emerge do conto a dúvida entre história e ficção, numa trama que puxa o melhor da literatura para o centro da página. Imperdível.
“O Self Essencial” (Alfaguara), de Will Self
Coletânea lançada no Brasil que reúne cinco contos e uma novela do autor inglês. Abrange textos não publicados em português de um escritor que não é bem servido no país – a editora lista três títulos, além de um e-book (leia a seguir). Self é daqueles escritores que inventam seus próprios universos, numa prosa urbana, com humor e boa dose de imaginação. Li há muito tempo “Cock & Bull” (Geração Editorial), história de pessoas que acordam com o órgão sexual do seu oposto em algum lugar do corpo. Não me entusiasmou na época e não retornei ao escritor até agora. Self se sai bem com narrativas curtas, como no conto “A Pedra de Crack Grande que nem o Ritz”, história de dois irmãos que descobrem uma jazida de cocaína no porão de casa. Os outros contos seguem o inusitado, como um terapeuta que se vê preso em um manicômio. Ou a história de um acadêmico que estudou uma tribo de índios na Amazônia que pregam o tédio. Com espaço reduzido, Self encontra sua melhor forma.
“Rangos Reais” (Foglio), de Will Self
Raro título de não ficção do escritor inglês disponível no Brasil, este é uma coleção de suas colunas para a revista “New Statesman”, que tratava da baixa gastronomia e como esse gênero se contrastava com a sua companheira. Então, do fast-food mais gorduroso a comidas de rua, Self mergulho no humor e no sarcasmo para debater a glamourização do ato de comer. É imperdível. O livro foi lançado exclusivamente no formato digital, a preço bem camarada – até R$ 5.