A história parece ficção. Um grupo de homens que ouvia uma luta de boxe pelo rádio em 1956 é subitamente levado para um bosque e fuzilado. Aqueles homens seriam esquerdistas, assim pensava o comando militar que ordenou a missão. Eram apenas homens comuns.
O fato ganhou ares de fantasia quando se descobriu que parte daquele grupo sobreviveu ao fuzilamento. E contou a história.
Isso aconteceu na Argentina, na ditadura militar que se seguiu ao governo peronista. O escritor Rodolfo Walsh conta em detalhes como tudo aquilo ocorreu em “Operação Massacre” (Companhia das Letras), um marco do jornalismo de não ficção lançado em 1957 – Walsh é considerado por muitos o inventor desse gênero, e não Truman Capote e seu “A Sangue Frio” (Companhia das Letras), lançado em 1966.
Walsh tem o domínio da narrativa e das técnicas de jornalismo. Apresenta seus personagens como em um romance policial, a criar tensão e expectativa. Persegue a informação a todo custo, não descansa enquanto não consegue explicações sobre o fuzilamento. Enfrenta os militares, causa desconforto. Faz jornalismo de primeira.
A edição brasileira traz a carta que Walsh escreveu para o governo militar em 1977, criticando a tortura e pedindo explicações sobre os desaparecidos. Após enviar a carta, Walsh desapareceu – e continua desaparecido, essa é a informação oficial.
O livro é um marco. Walsh reuniu coragem e talento para enfrentar um poder violento e inconsequente. Sabia dos riscos, como escreveu em “Operação Massacre”. Foi em frente e pagou com a vida. Esta obra traz não somente uma história impressionante, mas um relato escrito por quem dominava a técnica narrativa e fazia jornalismo como poucos.
Um comentário em “Dos arquivos: Um massacre desvendado”