Fotografia, jornalismo e quadrinhos se unem em “O Fotógrafo” (Conrad), obra em três volumes que retrata o Afeganistão nos anos 80, ainda sob a invasão da então União Soviética.
O livro, com o subtítulo “Uma História no Afeganistão”, narra a viagem que o fotojornalista francês Didier Lefèvre fez para aquele país acompanhando uma equipe do Médico Sem Fronteiras. Ele excursionou pelo Paquistão e as montanhas do Afeganistão junto com a ONG e retratou tudo em imagens.
Treze anos depois, uniu-se a Emmanuel Guibert (texto e desenhos) e Frédéric Lemercier (diagramação e cores) para criar esta HQ única. Remete aos trabalhos documentais de Joe Sacco, acrescida de fotografias.
“Uma História no Afeganistão” mistura desenhos com fotografias sem que um arte interrompa a outra. São complementares no livro, funcionam como o testemunho de Lefèvre, que narra a história dos bastidores.
O volume 1 se dedica ao início da viagem, a chegada ao Paquistão. O 2 foca na viagem do Paquistão para o Afeganistão. O 3, o mais denso do pacote, narra a volta do fotógrafo para o Paquistão desacompanhado da caravana do MSF – conta com a ajuda de guias e amigos feitos no caminho de ida.
A narrativa é tensa em toda a sua extensão. Jovens armados, peregrinos, o desencontro de línguas, regiões desertas e geografia instável dominam todo o caminho de ida e volta. O Afeganistão surge naturalmente, sem soviéticos, apenas sua população local.
A HQ é uma versão dos bastidores da viagem. Lefèvre se coloca como personagem, apesar de narrar em primeira pessoa – tal como Sacco.
O volume 3 é o melhor da série. A volta desacompanhado de Lefèvre revela não somente um ato corajoso, mas também desafiador. Enfrentar uma trilha vista uma única vez, em meio a uma paisagem que não se difere a não ser em detalhes se tornou uma aventura quase sem chegada.
Ele enfrentou policiais corruptos, guias desinteressados e mercenários, frio, fome, dores para chegar ao seu destino. De forma redentora.
“O Fotógrafo” não é uma história de guerra. É uma história que mostra uma aventura humana por um país desconhecido, marginalizado e em guerra. Salta das páginas o afeto que conquista Lefèvre, de uma terra cujas geografia e natureza tendem a desafiar os ocidentais.
As fotografias, mais do que documentais, narram o cotidiano afegão e a vontade de reconhecimento de um povo. Em alguns casos, chegam a ser comoventes.
Em resumo, a HQ é obra rara. E fundamental não só para quem aprecia HQ.
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