“Indefensável” (Record), de Paulo Carvalho, Leslie Leitão e Paula Sarapu
A história é das mais trágicas e mirabolantes, um crime cinematográfico que envolve uma frieza incomum. A morte de Eliza Samudio é contada nesse livro por três jornalistas que acompanharam o caso desde os primeiros boatos do desaparecimento da modelo. Rica em detalhes, a longa reportagem passa pela infância e juventude do goleiro Bruno, a relação com os jogadores do Flamengo – são vários os casos de orgias e festas com traficantes – e o envolvimento com Macarrão. O principal mérito do livro é recolher todas as facetas da história e colocá-las em ordem, o que dá ao texto um ritmo de thriller. A edição acerta em separar, no final, os destinos de Bruno, Macarrão e Bola (que teria sido o executor), da mesma forma como foi feito o julgamento – os advogados, em uma das inúmeras manobras, conseguiram desmembrar o caso. Faltou um pouco de tempero à Truman Capote e seu “A Sangue Frio”: revelar a trama por meio de Bruno e Macarrão. Ficamos sem saber quem deu a ordem efetivamente, como foi feito o arranjo e quando foram tomadas as decisões. Da mesma forma que a promotoria apresentou o caso, tudo ficou na suposição. Ainda assim, o livro é imperdível e revela muito das personalidades envolvidas, um verdadeiro estudo de caráter.
“O Dia em que o Rock Morreu” (Arquipélago), de André Forastieri
A editora especializada em não ficção reúne neste volume textos escritos pelo jornalista em sua carreira, de repórter da “Folha”, passando pela revista “Bizz” até chegar aos seus empreendimentos e ao blog no R7. Dono de um texto sarcástico, sem firulas e direto ao ponto, Forastieri acredita ter encontrado um conjunto de textos que ilustra como o gênero musical entrou em decadência até se tornar obsoleto. As teses são muito pessoais, e Forastieri não se importa em ser questionado – o que talvez valorize suas opções. Além disso, possui um texto fluente e muito bem escrito, um dos melhores do jornalismo musical. Ele mistura, nos artigos mais recentes, música e tecnologia, para entender como as pessoas lidam com a nova era. A capa brinca com a arte do disco “Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols”, o clássico da banda punk inglesa. Faltaram as referências dos textos, as datas em que foram escritas e quando foram publicados – o que não compromete o resultado.
“Bandido Raça Pura” (Arquipélago), de Fred Melo Paiva
O livro compila 36 perfis escritos pelo jornalista para os diversos veículos em que trabalhou – “O Estado de S.Paulo” (em sua maioria), “Folha”, “Trip”, “Vip”. Dividido em quatro partes – Dos ilustres mais ou menos virtuosos, Dos notáveis anônimos, Dos cães, ratos e urubus e Das coisas supostamente inanimadas -, o livro traz perfis de Oscar Niemeyer, Ronaldo, Cléo Pires, do escritor Paulo César de Araújo, da favela que ficava próxima à Daslu, do sucatão da Presidência, entre outros. Seus textos primam pela linguagem informal, direta, em que sutilezas muitas vezes são descartadas. Observador, foca em modos e gestos que poderiam passar despercebido. O conjunto revela então um estilo que cansa, se os textos forem lidos em sequência. As brincadeiras parecem se repetir. Se lidos semanalmente, seus textos ganham força – como na época em que seus perfis saíam aos domingos no “Estado”. No livro, perdem impacto.