Ryszard Kapuscinski é um exímio contador de histórias. O jornalista polonês (1932-2007) conheceu profundamente a África e suas guerras civis, boa parte relatada em seus livros.
É histórica a forma como ele contou, em “O Imperador” (Companhia das Letras), a queda e a vida pós Hailé Selassié na Etiópia, baseado em depoimentos de testemunhas e dos empregados do palácio do imperador.
Em “Mais Um Dia de Vida” (Tinta-da-China, edição portuguesa, sem lançamento no Brasil), Kapuscinski estreia como autor de livros de reportagem para captar um momento delicado na Angola.
Em 1975, Portugal estava a sair do país africano, o que abria uma brecha de governo e estimulava a briga de tribos e facções pelo controle de Angola.
Kapuscinski narra exatamente o período dos meses que anteciparam a liberação da colônia. O livro foi publicado pela Tinta-da-China em sua coleção de relatos de viagem – aliás, um dos melhores catálogos do gênero.
O jornalista passeia por uma desolada Luanda, uma cidade fantasma à espera da tomada por guerrilheiros. Cruza o país para e encontra com postos avançados de combate, escapa da morte enquanto entrega um retrato vívido do país em pleno colapso.
O primeiro livro de Kapuscinski já escancarava um repórter que não tinha receio de correr atrás da informação. Ainda que a lenda conte que ele transformava algumas declarações – ou, como Gabriel García Márquez preferia dizer, “colorir”, em história contada no prefácio do livro -, sua atuação e destreza o conferiram lugar de destaque no jornalismo do século 20.
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Sinapses de Kapuscinski (todos Companhia das Letras)
- “Ébano – Minha Vida na África”
- “A Guerra do Futebol”
- “O Xá dos Xás”
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