“O Silêncio contra Muamar Kadafi” (Companhia das Letras), de Andrei Netto
O livro dá toda a impressão que vai conquistar só pelo subtítulo: “A revolução na Líbia pelo repórter brasileiro que esteve nos calabouços do regime”.
Andrei Netto é correspondente de “O Estado de S.Paulo” em Paris e foi deslocado para cobrir o movimento na Líbia em 2011. Lá, foi sequestrado e agredido. O livro então se propõe a contar não só esse recorte da Primavera Árabe, mas também a relatar o drama do jornalista.
De um princípio promissor, o livro poderia chegar a um resultado envolvente, tenso. Mas não. É enfadonho, chato, descritivo em excesso, a relatar todos os passos do repórter, sem dar fluxo às ações. Ficou com cara de relatório, mesmo quando ele relata a prisão.
Netto tinha ouro em suas mãos, mas não soube vendê-lo.
“Diários da Síria” (Objetiva), de Jonathan Littell
Este é o oposto do livro de Andrei Netto. Publicado exclusivamente em e-book, a reportagem é dinâmica e usa os detalhes necessários para a compreensão e o contexto. Littell, autor de “As Benevolentes” (Objetiva), foi à Síria a convite do “Le Monde”.
Seu diário passa ao leitor a sensação de estar no meio do conflito. Littell descreve as privações, o perigo de se juntar aos rebeldes para acompanhar o conflito e as mortes que presenciou.
É uma bela reportagem e um exemplo de como o jornalismo pode encontrar uma solução para os seus problemas – texto, reportagem, pauta, a velha trinca que sempre funciona.
“Tahrir – Os Dias da Revolução no Egito” (Língua Geral), de Alexandra Lucas Coelho
Este é um caso diferente. A jornalista portuguesa, autora de “Caderno Afegão”, estava no México divulgando um livro quando a revolução estourou no Egito. Em vez de voltar ao trabalho, no jornal “Público”, ela pediu licença por mais alguns dias e viajou por conta própria para o Cairo.
Lá, não fez o caminho natural. Não se hospedou em hotel nem conviveu com outros jornalistas. Ela se juntou à multidão na praça Tahrir e escreveu talvez o relato mais próximo daqueles dias.
O resultado é impressionante. Em pouco mais de 100 páginas, ela reconta os 18 dias de revolução, a convivência com personagens ativos do movimento e descreve o destino desses retratados.
Jornalismo em forma bruta, idealista, muitíssimo bem feito, o livro é um raro documento do século 21.
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