Em tempos em que falar e escrever são medidos pelo excesso, é notável o trabalho que o francês Bastien Vivés realizou na HQ “O Gosto do Cloro” (Barbanegra/LeYa).
O silêncio e o respeito ao tempo dos outros é o norte do livro, em que o ilustrador e roteirista faz uso de uma paleta de cores restrita, com tons pastéis e uma base de pequenas variações de verde.
A história é simples. Um jovem com problema na coluna é aconselhado por seu fisioterapeuta a praticar natação. Ele vai então a uma piscina pública, onde enfrenta sua resistência.
Sem nomes ou identificação de lugares, a HQ é quase toda passada dentro da água. A perspectiva que o autor imprime muda em alguns quadros, para o narrador e para o jovem.
Ao encontrar uma francesa, tenta um contato tímido, até que a natação das quartas-feiras se torne rotina em sua vida. Mesmo assim, o jovem não invade a privacidade da garota – as conversas são sobre o jeito de nadar do rapaz e questões genéricas, como “quais coisas você nunca abandonaria?”.
Os intervalos que Vivés impõe ao leitor são mais do que um respiro, são a contemplação necessária para enxergar que a distância, assim como a proximidade, é necessária para se obter uma certa leveza.
No final, a sensação que temos é que nem tudo precisa ser transmitido por palavras, faladas ou escritas. Nem o amor.