Li “Pedro Páramo” pela primeira vez em algum momento há mais de 14 anos, uma edição da Paz e Terra que trazia também a coletânea de contos “O Planalto em Chamas”.
Em 2004, a Record reeditou o livro, com tradução de Eric Nepomuceno, e rebatizou a compilação de “Chão em Chamas”.”Pedro Páramo” é considerado a obra-prima do realismo mágico, influência para nomes que escancararam as portos do gênero, como Gabriel García Márquez. Lançado em 1955, foi o único romance do escritor mexicano – seus contos são de 1953. Nada mais saiu da pena de Rulfo.
Na primeira vez que li, enfrentei com dificuldade a história de Juan Preciado, filho de Pedro Páramo que vai em busca de seu paradeiro a pedido da mãe. Dei uma nova chance ao romance quando vasculhava uma livraria, em 2009, à procura de um livro de bolso para viajar e encontrei a edição da BestBolso, da Record, com a mesma tradução de Nepomuceno, mas sem os contos.
Novamente, o livro não me pegou como, por exemplo, “O Som e a Fúria” (CosacNaify), de William Faulkner, distante do realismo mágico de Rulfo, mas presente na ousadia que se percebe na experimentação narrativa. Ou como a obra de Gabo. Ou Borges. Ou Casares e seu “O Sonho de Heróis” (CosacNaify). Não encontro envolvimento. Reconheço a força do romance, da prosa de Rulfo. Mas me fez falta algo.Comala é a cidade mexicana para onde segue Preciado na busca do pai. No caminho, vai encontrar um rastro de terror e assassinatos. A frase inicial é clássica: “Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo”. A partir daí, Rulfo entrega vários livros. À busca de Preciado soma-se a história de Pedro. Os narradores se alternam, descobrimos que Preciado não conversa com o leitor, mas com Dorotea, morta. Há uma história de amor, outra de vingança. Há saltos no tempo e no espaço.
A edição da Paz e Terra já não está comigo, nem a versão de bolso e a reedição da Record – conto aqui esse saga. Não sei o motivo do sumiço, mas também não adianta procurar respostas num passado recente de várias mudanças de cidade.
Fui reler recentemente “Pedro Páramo” num exemplar saído da Estante Virtual, na mesma Belo Horizonte do primeiro encontro com Rulfo. Esperava, depois de um hiato de quatro anos desde a última leitura, encontrar um livro mais digerível, mas não. Juan Rulfo continua a ser um autor que não desce – nem seus contos foram simpáticos ao leitor.
O livro foi para a prateleira. Quem sabe para daqui a quatro anos voltar à cabeceira para uma nova chance.