Provavelmente, eu teria o dobro de livros que tenho hoje se eu tivesse mantido a minha biblioteca intacta. Muitos, centenas se foram ao longo de anos. Doados, vendidos e trocados em sebos, vendidos no Estante Virtual, emprestados que nunca voltaram, perdidos nas mudanças.
A maior parte deles não gera arrependimento. Mas alguns me obrigam a entrar numa livraria novamente e comprar uma segunda cópia. Foi assim com Ian McEwan – readquiri “Amsterdam” e “Amor Sem Fim”, em novas edições e traduções, da Rocco para a Companhia das Letras.
Às vezes, o arrependimento se transforma em prazer, como nesse caso do escritor inglês. Novas edições, novas traduções, isso dá a sensação de livro novo a ser lido. Em alguns casos, nem sempre as prateleiras de livros novos resolvem o problema.
Por exemplo, “Pedro Páramo”, de Juan Rulfo. Eu cheguei a ter três edições diferentes. A primeira era uma edição da Paz e Terra, com a novela “Planalto em Chamas”. Depois, veio a tradução de Eric Nepomuceno (Record), com a novela rebatizada de “Chão em Chamas”. Por último, um livro de bolso (BestSeller), comprado em uma viagem. Hoje, não tenho nenhuma. E não sei o que aconteceu com os livros.
Recorri à Estante Virtual para recomprar a edição da Record.
Outro caso é da HQ “Blues”, de Robert Crumb. Cheguei a comprar várias de suas HQs lançadas no Brasil pela Conrad. Mas confesso que seu traço e seu tema me cansaram, não me entusiasmava. Despachei.
Semanas atrás, encontrei um CD com a capa do livro de Crumb, “Harmonica Blues – Great Harmonica Performances of the 1920s and 30s”. E lembrei da HQ.

Crumb presta uma homenagem ao blues e aos bluesmen do início do século 20. Ele conta como Charley Patton surgiu, a lenda de Robert Johnson, brinca com os estereótipos, vai à caça de vinis raros das décadas de 20 e 30 e publica as capas que desenhou para discos.

Mais do que uma HQ, “Blues” é quase uma pequena biografia do gênero. Precisava estar de volta à biblioteca. E voltou. Desta vez para ficar, como única representante do universo Crumb.

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