Sábato: Eu penso que o homem é um ser emocional, em segundo lugar, intelectual. O homem primeiro sente o mundo e depois cavila sobre o mundo, ou seja, a arte precede a filosofia, a poesia é anterior ao pensamento lógico. Por isso sou da opinião de que, mas claro, são conjecturas, as primeiras manifestações do homem são a dança e a linguagem poética. Com ambos os instrumentos ele expressa os seus temores, as suas esperanças, faz suas invocações, trata de se comunicar.
Borges: Há uma ideia de Poe, de que um poema é uma construção intelectual, e é totalmente falsa. É possível, mas não corresponde à literatura. Se em um poema não há emoção prévia, tampouco há necessidade de escrevê-lo. Finalmente, todo grande poeta instintivo nos deixou, quase sempre, os piores versos que alguém possa imaginar, mas também, alguma vez, os melhores.
Sábato: É o problema da intuição básica do homem, que acredito emocional, e que se dá tanto no selvagem como na criança…
Borges: É a grande descoberta dos políticos, que não precisam ser coerentes.
Sábato: Não, claro, apelam para o coração. O princípio de identidade não foi descoberto por nenhum político.
De “Diálogos: Borges/Sábato” (Globo). Este trecho é de 11/1/1975
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